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Patricia Rzezak

Copo meio vazio ou meio cheio e a pandemia Covid-19


Existem algumas metáforas ou expressões idiomáticas que uso com uma certa frequência em meus atendimentos. Adoro falar sobre a escolha de Neo (protagonista da série de filmes Matrix) pela pílula vermelha e do saco de bolinhas de gude retratando a nossa capacidade atencional. Agora, acho que a expressão do copo meio cheio ou meio vazio é pau pra toda obra. O que eu acho mais incrível sobre estas expressões é que você pode usá-las para tantos contextos diferentes e na grande maioria das vezes engatilha exatamente a reflexão que você gostaria de despertar no seu interlocutor.

Não poderia deixar de usar a minha expressão queridinha para continuar esta série de reflexões sobre a pandemia do Covid-19.

Vamos ao copo meio vazio. A quantidade de contaminados e pessoas que morreram por conta desta desgraça não para de aumentar. Os políticos estão se apropriando deste momento horroroso para angariar votos para suas campanhas. A economia está congelada, muitos estão perdendo seus trabalhos ou tendo redução de seus salários. Tem os que estão muito bravos com os que não fazem o isolamento correto e os culpam pelo aumento do número de contaminados e pela extensão do confinamento e distanciamento social. Os outros estão enraivecidos que ao limitar o livre acesso ao trabalho a economia vai para o saco e muitos irão sofrer pela falta de dinheiro. Individualmente, aumentou o medo, a angústia, a ansiedade, o saco cheio. É difícil dar conta dos afazeres domésticos, das crianças em aula virtual (ou da solidão de estar sozinho(a) em casa), do trabalho (ou da falta de trabalho), etc. Sim, temos muitos motivos para viver a tristeza deste momento.

Mas o quanto perdemos da perspectiva global das nossas vidas quando focamos apenas no copo meio vazio?

Vamos então ao copo meio cheio. Como sei que o copo de cada um é muito diferente, vou trazer alguns fatores que estão no copo dos pacientes que estou acompanhando. Quando foi a última vez na sua vida que você passou mais de 60 dias com os seus entes queridos? Sem interrupção? Você reparou alguma característica dos seus filhos, irmãos, pais, namorado(a), cônjuge, amigos que você nunca tinha notado? Você descobriu algum tipo de atividade que você gosta muito de fazer? Aprendeu que tem algum tipo de atividade que você absolutamente não gosta de fazer? Descobriu um talento? Adquiriu um novo hobbie? Ampliou seu autoconhecimento? Exercitou uma característica que você precisa aperfeiçoar? Leu algo que você gostou? Assistiu a lives que fizeram sentido ou simplesmente foram um bom passatempo? Assistiu um show de um cantor ou banda que você gosta muito e nunca tinha visto “ao vivo”? Maratonou uma série legal?

Algo que venho refletindo e também estudando um pouco durante esta quarentena é a GRATIDÃO. Você sabia que existem estudos científicos publicados em revistas bastante sérias que mostram os efeitos benéficos do sentimento de gratidão para a saúde mental das pessoas? Uma atividade tão simples quanto marcar diariamente três a cinco itens pelos quais você foi grato(a) em um dia aumenta o seu afeto positivo, sua felicidade e satisfação na vida. Além disso, pode diminuir os sintomas de estresse e depressão. Há estudos, ainda, que demonstram que praticar a gratidão está relacionado a melhor adaptação social, formação e manutenção de relacionamentos, diminuição de sintomas físicos e problemas de sono.

Uma outra linha de pesquisa investiga o efeito benéfico da gratidão na diminuição de sintomas de estresse pós-traumático e sintomas depressivos em vítimas de eventos traumáticos. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, o trauma pode ocorrer através da exposição direta, testemunho, aprendizado sobre eventos traumáticos ou pela exposição repetida a dados estressantes. Não há dúvidas que muito de nós iremos experimentar este período de nossas vidas como traumáticos.

Pensando então na metáfora do copo meio cheio e desta base científica para os efeitos positivos da gratidão, que tal pegar um caderninho e uma caneta e deixar na cabeceira da cama. A tarefa é toda noite, antes de dormir, enumerar alguns pontos que te fazem se sentir grato(a) naquele dia. Se der para enumerar três coisas, maravilha. Se não der, tente encontrar ao menos uma coisa que você pode agradecer. Faça isso todos os dias. Não tem problema repetir. O exercício é refletir e exercitar a gratidão às pequenas e grandes coisas da vida.

Se ajudar e fizer sentido esta técnica, faz um comentário aqui me contando alguns pontos que você é grato(a). Quem sabe a sua gratidão desperta a gratidão do outro!




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